Artigo do advogado - Conservadores e Liberais: Aberto para Reforma
Paulo Henrique Rausis Nascimento é advogado e procurador do município de Lagoa Formosa (MG).
Gabriel Garcia Marques, na década de 60, escreveu que “a única diferença entre liberais e conservadores é que os liberais vão à missa das cinco e os conservadores vão à missa das oito.” A mesma lógica pode ser aplicada na comparação entre a nova direita dos revolucionários conservadores e a nova esquerda dos liberais revolucionários. Hoje, um campo reage ao outro alimentando respostas igualmente reacionárias.
A expressão “ser liberal” pode sofrer variações no seu sentido conforme a lupa cultural que se aplica sobre ela. Mas, para mim, significa principalmente estar o indivíduo acima de qualquer grupo, nação, partido, raça, sociedade etc. Entretanto, a ideia aqui é diferente da máxima “liberal na economia e conservador nos costumes”, pois vamos utilizar mais de dois neurônios.
Assim sendo, todo liberal, em condições ideais de temperatura e pressão, seria também um reformista, ou progressista. No sentido de que é preciso dar ao homem a maior liberdade que for possível, além de ser importante também que exista uma solidariedade capaz de gerar oportunidades equiparáveis para as pessoas.
Repare bem, oportunidades equiparáveis e não iguais. Quem defende igualdade de oportunidades costuma evitar discussões profundas sobre política socioeconômica, recorrendo a discursos superficiais enquanto planeja a sua próxima viagem ao exterior.
O ponto principal, entretanto, é que toda solidariedade só encontra lugar no mundo quando se limita a liberdade individual. Melhor dizendo, quanto mais se deixa de considerar o indivíduo como o sol do ambiente em que está inserido, maior será a dimensão da solidariedade e vice-versa.
Chegamos então ao momento da terapia política em que se separa aqueles terão alta daqueles que continuarão no divã. O fato é que, todo reformista é também um conservador. Existem coisas que devem se manter na forma e na medida em que se encontram. Um conservador valoriza o que já existe, evitando alguns riscos em relação ao desconhecido.
A dificuldade surge ao inserirmos a palavra “revolucionário” na conversa. Pior ainda quando ela se junta à “conservador” e à “progressista” e se transforma em um predicativo do sujeito, um sujeito digamos perdido. Daí surgem as espantosas frases: “eu sou um revolucionário conservador” ou “eu sou um revolucionário progressista”.
Os revolucionários, da nova direita e da nova esquerda, acreditam numa ideia perigosa de ser possível a qualquer custo fazer nascer um novo modelo de homem e um novo modelo de sociedade.
A nova direita, a dos revolucionários conservadores, escolheu abandonar a agonia que os antigos liberais nutriam para com os líderes carismáticos. Agora, a direita, que por muito tempo tentou patentear a ideia de que um governante deve ser o mais técnico possível, se mostra capaz de venerar o primeiro messias que desponta nos trending topics das redes sociais, sem fazer qualquer ponderação de questões como civilidade, tecnicidade e probidade.
Já a nova esquerda, a dos liberais revolucionários, na maioria das vezes orientada por uma elite que disfarça o seu “ser elite” se embrenhando em pautas identitárias, fez com que a esquerda tradicional se transformasse em um quase sinônimo para “centro-direita”. A moda aqui é pautar o discurso em questões como a obrigação coletiva de adivinhação do gênero não explicito de uma pessoa pela forma como ela se veste ou se comporta, além de encampar uma luta pela oficialização da difícil linguagem neutra, tão errada quanto cômica, em um país que ainda tem 9,1 milhões de analfabetos.
Ou seja, agora a única diferença entre eles é que os liberais revolucionários exercem seu reacionarismo às cinco e os conservadores revolucionários fazem um react igualmente reacionário às oito. Assim, de like em like, esquecemos que o que mudaria a vida das pessoas de fato para melhor seria um reformista.
O que falta, talvez, seja um reformista que engaje. Eis o dilema, um reformista é a representação do tédio e um discurso revolucionário sempre será mais sedutor, seduzindo até reformistas que, por necessidade de pertencimento, embarcam no navio dos reacionários, que parecem concordar em um ponto: quando chegam ao controle, assumem um conservadorismo que a todo custo planeja conservar o poder.
Mire, veja, o Brasil precisa estar aberto para reformistas.
SOBRE O ADVOGADO:
Paulo Henrique Rausis Nascimento é advogado e
procurador do município de Lagoa Formosa (MG). Além da advocacia, dedica-se à
escrita e à reflexão sobre temas cotidianos, jurídicos, políticos e sociais.
