Entenda como o novo ensino médio vai impactar o Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deverá mudar
nos próximos anos, acompanhando as alterações nos currículos do ensino médio em
todo o país. Essa mudança, no entanto, ainda deve demorar. Segundo o ministro
da Educação, Camilo Santana, um novo modelo poderá começar a ser aplicado
apenas a partir de 2025, depois de ser amplamente
discutido. A Agência Brasil conversou com estudantes e
especialistas sobre o que esperar do futuro do Enem.
Atualmente, o Enem é composto por provas de
linguagens, ciências humanas, matemática e ciências da natureza que, juntas,
somam 180 questões objetivas de múltipla escolha,
além de uma prova de redação. O exame é aplicado em dois domingos.
Teoricamente, o Enem deveria cobrar o que os estudantes aprenderam ao longo da
trajetória escolar.
Em 2017, no entanto, o país aprovou o chamado novo
ensino médio, que começou a ser implementado nas escolas públicas e
particulares no ano passado. A previsão era que o Enem também mudasse, em 2024,
para se adequar ao novo ensino. Pelo novo modelo, parte das aulas é comum a
todos os estudantes do país, direcionada pela chamada Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios estudantes podem
escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. As opções permitem ênfase
nas áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e
ensino técnico. A oferta de itinerários depende da capacidade das redes de
ensino e das escolas brasileiras.
Um parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Educação
(CNE) em 2022 sugeria que o novo Enem tivesse duas etapas, uma tendo como
referência a BNCC e, outra, que poderia ser escolhida pelo estudante de acordo com a área vinculada ao curso superior que
pretende cursar. O governo anterior chegou a anunciar a nova proposta, mas ela não saiu do papel.
Críticas
O novo ensino médio sofreu uma série de críticas e,
atualmente, está sendo rediscutido no âmbito do governo federal. Com isso, o
cronograma de mudanças no Enem foi suspenso. As provas, que deveriam mudar já
em 2024, agora terão também as mudanças adiadas.
“De certa forma estão sendo feitos ajustes, não há
como fazer um novo exame sem que o ensino médio esteja sendo implementado de
forma clara”, diz o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais
Chico Soares. Soares é ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que é responsável pelo Enem e é
também ex-membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), onde foi um dos
relatores da BNCC.
Soares explica que as mudanças no Enem ainda devem
demorar, porque, mesmo depois que o novo modelo para o ensino médio for
definido, ainda será preciso readequar as provas. “Vamos mudar o tipo de
expectativa de aprendizagem”, diz. O Inep precisará, então, elaborar e testar novas questões antes de aplicá-las.
Segundo o ministro da Educação, o Enem deverá começar
a ser reformulado a partir do ano que vem, para que as mudanças passem a valer
a partir de 2025. As discussões devem ocorrer dentro dos debates do Plano
Nacional de Educação (PNE), que estabelece metas para a educação a cada dez
anos. Para Soares, a previsão é otimista. Ele estima que uma nova prova
deve ser aplicada ainda mais tarde, a partir de 2026.
Preocupação
Para os estudantes, a situação gera muita preocupação, segundo a presidenta da
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz. “Nos
preocupa muito, porque o modelo de ensino mudou. Objetivamente, o ensino médio
teve uma mudança muito brusca, uma redução da carga horária básica, que é muito
importante e é o que cai no Enem. Tivemos uma redução e a gente acaba não vendo
tudo no ensino médio e é o que será cobrado no Enem. Isso nos prejudica muito”,
diz.
Segundo ela, o ensino médio anterior ao novo modelo
não era o ideal, mas a redução da formação básica de forma abrupta acirrou a
desigualdade entre escolas públicas e particulares, uma vez que cada rede de
ensino oferta a formação de acordo com a própria capacidade.
A estudante diz que, embora o cronograma do novo
ensino médio preveja a implementação gradual ano a ano, todas as séries do
ensino médio estão sendo impactadas, inclusive quem atualmente cursa o 3º ano e
vai prestar o Enem para buscar uma vaga no ensino superior. “Não tem as
matérias que serão cobradas, então, na visão do estudante da escola pública,
vou fazer uma prova que sei que não vou passar”, diz e acrescenta: “Todas as
séries estão sendo impactadas. E é surreal, porque serão três gerações,
contando a partir de hoje, que serão atingidas por isso. O novo ensino médio
nos aproxima do subemprego”.
Enem 2023
O Enem 2023 será nos dias 5 e 12 de novembro. De
acordo com o Inep, mais de 3,9 milhões de pessoas estão inscritas. Desse total,
1,4 milhão, o equivalente a 35,6%, concluem o ensino médio este ano. Outros 1,8
milhão (48,2%) já concluíram o ensino médio em anos anteriores e os demais
16,2% dos inscritos ainda não concluíram o ensino médio e farão a prova apenas
para testar os conhecimentos, os chamados treineiros.
O Enem é a principal porta de entrada para a educação
superior no Brasil. É utilizado para o ingresso em instituições públicas por
meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e para obtenção de bolsas de estudo
em instituições privadas pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Também
é usado para obter financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies).
Além disso, os resultados do Enem também podem ser
aproveitados nos processos seletivos de instituições estrangeiras que
possuem convênio com o Inep para aceitar as notas do
exame.
Reprodução Agência Brasil