Dia dos Queijos Artesanais de Minas é comemorado nesta segunda-feira (16/5)
Produto artesanal está entre os principais destaques agropecuários do estado
Nesta
segunda-feira (16/5), é comemorado o Dia dos Queijos Artesanais de Minas
Gerais. A data, instituída há cinco anos, é fruto da Lei Estadual 22.506.
A legislação foi um ato de
reconhecimento da importância desses tipos de queijos feitos de leite cru, sem
processo de pasteurização. A homenagem faz jus a um dos produtos agropecuários
mais apreciados e respeitados em Minas e em outros estados do país. A
valorização dos queijos artesanais tem relação com os aspectos gastronômico,
econômico, social e cultural. As variadas receitas de queijos artesanais
costumam seguir tradições históricas, passadas de geração em geração por
famílias de produtores rurais.
O dia e o mês escolhidos para
os queijos artesanais mineiros remetem ao registro, em 2008, do Modo Artesanal
de Fazer Queijo de Minas nas regiões do Serro, Serra da Canastra e Salitre.
Naquele ano, o jeito de produzir
a iguaria foi lançado na categoria Saberes, pelo Conselho Consultivo do
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), tendo sido o
quarto bem registrado no Livro de Registro dos Saberes. Um dos queijos
artesanais feitos no estado, o Queijo Minas Artesanal (QMA), é reconhecido
também como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Iphan.
Estimativas da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais (Emater) apontam
que a produção de queijos artesanais gera renda e ocupação para cerca de 30 mil
famílias de todas as regiões do estado. Juntas, essas famílias produzem cerca
de 85 mil toneladas do produto ao ano. Também mostram que, somente o QMA,
primeiro queijo artesanal mineiro a ser regulamentado pela Lei Estadual
14.185/2002, é a fonte de renda de aproximadamente 9 mil famílias.
Queijo Minas Artesanal (QMA)
O Queijo Minas Artesanal
(QMA) é uma das muitas variedades de queijo artesanal produzidas em Minas
Gerais. Como outros tipos artesanais, ele é feito de leite de vaca cru, sem
pasteurização e costuma seguir processos tradicionais de confecção, em pequenas
propriedades. “Foi o primeiro queijo a ser caracterizado no estado. O leite cru
tem de ser produzido, exclusivamente, na propriedade de origem do queijo.
Utiliza pingo, coalho, salga a seco e passa por processo de maturação,
adquirindo uma casca lisa e amarelada”, explica a coordenadora técnica estadual
da Emater-MG, Maria Edinice Soares.
Nos dois últimos meses, Minas
Gerais ganhou oficialmente mais duas novas regiões produtoras de Queijo Minas
Artesanal. Em março, o governador Romeu Zema anunciou o reconhecimento da
região de Diamantina que, além do município de mesmo nome, incluiu outros oito
da redondeza. Já em abril, o governador noticiou mais uma região produtora do
QMA. Nomeada de Entre Serras da Piedade ao Caraça, ela contempla os municípios
de Catas Altas, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Rio Piracicaba, Bom Jesus do
Amparo e Caeté.
Com a oficialização dessas
novas áreas produtoras de QMA, Minas Gerais totaliza agora dez microrregiões
caracterizadas. São elas: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado,
Diamantina, Entre Serras da Piedade ao Caraça, Serras da Ibitipoca, Serra do
Salitre, Serro e Triângulo Mineiro. Segundo informações do Instituto
Mineiro de Agropecuária (IMA), somente produtores dessas regiões são
autorizados a usarem o nome da região na embalagem.
Produtores
O presidente da Associação de
Produtores de Queijo da Região de Diamantina (Aprodia), Leandro Pereira de
Assis, está apostando no crescimento do mercado para os queijeiros da nova
região e também no incremento das atividades turísticas locais. “Vai agregar
mais valor ainda ao produto, porque será mais procurado no mercado. Também vai
ser mais um atrativo para o turismo, pois estamos montando rotas de vivência
nas propriedades rurais produtoras aqui da região de Diamantina”, afirma.
Segundo o presidente da
Aprodia, as chamadas rotas de vivências são passeios para turistas nas
propriedades produtoras de queijo. Nesses locais eles podem acompanhar todo o
processo de produção do queijo: do manejo do gado e ordenha até a fabricação do
laticínio. “Alguns até ajudam a fazer o queijo. E, no final da produção, todos
podem degustar o queijo fresco que ajudaram a fazer e também um queijo maturado
de 40 dias, que partimos para todos comerem”, explica Leandro.
O produtor Richard Andrich
Santos está aplaudindo a oficialização da região Diamantina como produtora do
Queijo Minas Artesanal. Proprietário do Sitio das Lajes, em Datas, ele produz
entre seis e oito queijos por dia. Ele conta que aprendeu o ofício com os
vizinhos e produz há 15 anos, embora conheça a região há três décadas. O produto
é comercializado principalmente para Belo Horizonte.
“Aprendi a fazer o queijo com
meus vizinhos da forma como se faz tradicionalmente: leite cru, coalho, pingo e
sal. Sei que estão homologando uma coisa que existe aqui há séculos. É o
reconhecimento, com a própria palavra diz, de um produto que faz parte da
cultura e tradição do povo da região”, argumenta.
Turismo de experiência
Como o presidente da Aprodia,
Richard já vislumbra o potencial turístico surgido com a criação da nova região
produtora de Queijo Minas Artesanal de Dimantina e faz planos para atrair esse
público. “As pousadas sempre mandam turistas. Por isso, pretendo melhorar a
nossa estrutura, construindo sanitários masculino e feminino, fora da casa”,
revela.
Ele considera sua produção de
queijo pequena, mas seleta, pois o leite vem do Guzerá, considerado um gado
puro, mas que não produz muito leite. “O gado é criado a pasto e produz leite
de altíssima qualidade. Tanto que ganhamos o primeiro lugar, na categoria Super
Ouro, do Mundial de Queijos do Brasil, em 2019, na cidade de Araxá”, informa,
acrescentando que também trabalha para aumentar a produção do queijo.
No município de Rio Piracicaba, na
recém-criada região de Entre Serras da Piedade ao Caraça, o produtor Pedro
Henrique e sua família também têm uma história secular com a produção de
queijo. Há pouco mais de cinco anos, ele resgatou a tradição de fazer queijo
maturado na tábua e, a partir daí, surgiu o interesse de legalizar a produção,
o que foi concluído no final do ano passado, com a obtenção do Selo Arte.
Agora, o seu queijo pode ser comercializado em todo o país.
Para o produtor piracicabense, o
reconhecimento da nova região vai trazer mais oportunidades aos produtores. “A
partir de hoje, nosso produto passa a ter mais valorização no mercado. As
cidades que estão situadas em uma região reconhecida como produtora de Queijo
Minas Artesanal ganham visibilidade”, afirmou.
Tipos artesanais
Além das dez microrregiões produtoras do
Queijo Minas Artesanal, o estado mineiro tem mais outras cinco regiões
caracterizadas. Isso significa que passaram por estudo que identificou e
definiu o tipo de queijo. Essas regiões produzem os seguintes queijos artesanais:
Cabacinha, Serra Geral, Vale do Suaçuí, Alagoa e Mantiqueira de Minas.
Hoje, já se sabe que cada um deles tem
características peculiares, como o sabor, por exemplo, que sofre a influência
do clima e da pastagem predominante. A origem e manejo do rebanho e até o
perfil do produtor também são determinantes no tipo de queijo de cada lugar.
O queijo artesanal Cabacinha é produzido
na região do Vale do Jequitinhonha. É feito de leite cru de vaca, mas a massa é
aquecida, sem chegar a pasteurizar. Recebe soro fermento, retirado no final da
mexedura da massa e reservado em temperatura ambiente para ser usado no dia
seguinte, na fabricação do queijo. É moldado manualmente em forma de cabacinha.
Já o queijo artesanal da Serra Geral,
produzido em 17 municípios da região Norte de Minas Gerais, não tem um processo
definido quanto à forma de fazer. ”Ainda está em fase de estudo. Mas é feito de
leite cru e coalho, sendo comercializado fresco”, esclarece a coordenadora
Maria Edinice.
Por outro lado, os artesanais: queijo do
Vale do Suaçuí, queijo de Alagoa e queijo da Mantiqueira de Minas têm
praticamente o mesmo modo de fazer com pequenas diferenças: leite cru de vaca,
soro fermento e coalho. A massa passa por um processo de cozimento, enformagem
e salga salmoura.
Emater-MG
A Emater-MG trabalha em parceria com o
órgão estadual de inspeção sanitária, o Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA), que registra as queijarias do estado. O registro legaliza a situação dos
estabelecimentos para que possam comercializar seus produtos, com segurança
para o consumidor, em Minas Gerais e outros estados do país. Sendo que, para
vender fora das divisas mineiras, além do registro, o produtor precisa
solicitar também o Selo Arte.
“O primeiro passo pra quem deseja legalizar o queijo que produz é procurar o escritório da Emater-MG, para que o extensionista orientar sobre o processo. O nosso papel é apoiar o produtor na organização dos documentos exigidos pelos órgãos de habilitação sanitária", explica Maria Edinice. Ainda segundo a técnica, o IMA não trabalha mais com a figura do cadastro, mas com registro. Ao registrar a queijaria no IMA, o produtor poderá solicitar o Selo Arte.
Fonte: Agência Minas