Dia Internacional da Mulher - Dupla jornada é grande inimiga das mulheres no mercado de trabalho, alertam especialistas
Docente do Senac avalia que o trabalho de cuidado pode ser limitador na carreira de mulheres.
Iniciar o dia cuidando da casa e dos filhos, enfrentar o transporte e o
horário do trabalho e ainda realizar mais tarefas domésticas e familiares antes
de poder repousar para no dia seguinte fazer tudo novamente. Parece cansativo,
mas é a realidade de milhares de mulheres brasileiras. Segundo pesquisa da FGV,
no Brasil, 65% dos trabalhos de cuidados não remunerados, comumente feitos em
casa, são realizados por mulheres. O estudo indica que economicamente esse
trabalho incrementaria 13% do PIB do país, se fosse contabilizado.
“A dificuldade de conciliar carreira e vida pessoal ainda é uma
realidade. As mulheres muitas vezes enfrentam dificuldades para equilibrar as
demandas do trabalho com as responsabilidades familiares devido à falta de
políticas de licença parental, creches acessíveis e flexibilidade no local de
trabalho. Isso também pode gerar barreiras no acesso à educação e oportunidades
de desenvolvimento profissional, o que limita perspectivas de carreira e
crescimento econômico”, explica Carla Kirilos, docente no MBA do Senac e
consultora na área de Gestão de Pessoas e Educação Corporativa.
A pesquisa da FGV revela que para as mulheres são mais de 21 horas por
semana em trabalhos de cuidados não remunerados, enquanto os homens dedicam em
média 10 horas a menos. A especialista afirma que este fenômeno está baseado em
estereótipos de gênero, que “podem influenciar nas percepções e expectativas em
relação às mulheres no local de trabalho, limitando suas escolhas de carreira e
oportunidades de avanço”, explica. Trabalhos de cuidado são comumente vistos
como obrigações inerentes ao sexo feminino e por isso, enquanto os homens
avançam na carreira, as mulheres enfrentam mais fatores limitadores.
Flexibilidade pode ser a solução
Ainda assim, mulheres são maioria ao buscar qualificação profissional,
como revela último o Censo Escolar. Na faixa de 40 a 49 anos, na qual se
encontra a maior diferença, mais de 62,2% das matrículas da educação
profissional são do público feminino. No Senac em Minas, mais de 66% do corpo
discente é composto por mulheres, que buscam se qualificar da aprendizagem até
o MBA.
Carla Kirilos avalia que as tecnologias e práticas de trabalho
flexíveis podem ajudar a melhorar o equilíbrio entre vida pessoal e
profissional das mulheres. “É um mundo que não tem volta. O trabalho remoto ou
híbrido, por exemplo, oferece flexibilidade para gerenciar responsabilidades
familiares e profissionais, bem como pode reduzir o estresse relacionado a
deslocamento e sensação de ausência e distância.”
Outra medida que a especialista cita é a licença parental flexível, em
que as empresas possam oferecer tempo para mulheres para cuidar dos filhos
recém-nascidos ou adotados sem comprometer sua carreira. Isso pode incluir
opções como licença remunerada, licença compartilhada entre pais e mães e a
capacidade de retornar ao trabalho em tempo parcial.
No final, a sociedade, a trabalhadora e a empresa também se beneficiam,
indica Carla: “Empresas que valorizam e promovem a equidade de gênero são
vistas como empregadoras atraentes para uma ampla gama de talentos,
principalmente se considerarmos a geração Z. Isso pode ajudar e atrair
candidatos qualificados de diversas origens e experiências”, finaliza.
Por Lélis Félix/Foto: Ilustrativa