EL CIRCO CEROULAS
Senhoras e senhores, o Circo chegou! El Circo Ceroulas! Venham prestigiar o último espetáculo. Sete de outubro será uma primavera de sorrisos, anedotas e gargalhadas e você não pode perder! Traga toda a família e principalmente óculos, caso queira realmente ver a estupenda apresentação.
Não haverá palhaços! - Notícia emitida pelo carro de som e pelo programa circense gratuito. Quê! Como assim? Não estou entendendo. O que aconteceu com os comediantes ridículos de nariz vermelho avantajado?
Ecoaram os tambores, as cornetas e as trombetas, e lá se foram, obrigatoriamente, os cidadãos em fila única e lenta, como de costume. É sério, é costumeiro o enfrentamento horizontal e vertical de quilométricos caminhos com a finalidade de se garantir algum direito político, social, como no caso de uma consulta pelo Sistema Único de Saúde. Diabos! Onde funciona o gabinete para solicitar a “baixa de cidadão”? Esse renque, apesar de descomedido em extensão, compensaria os demais.
Depois de apresentar a cortesia em papel timbrado verde, ainda próximo da bilheteria, tinha-se que romper um tipo de catraca que estava ligada a um painel digital, no qual se lia “Burrômetro” e “Ignorâmetro” – implicitamente, óbvio. O derradeiro apresentava o valor máximo sempre. Logo à frente, já era possível visualizar o picadeiro. Lugar espalhafatoso, desorganizado, porém cômico.
Nos bastidores, eles apresentaram seus juramentos. Eles quem? O ilusionista, o equilibrista da corda bamba, o Tiri-rico, o Rô, irmão do Mário, entre outros. O primeiro disse: “Prometo exercer a administração com vários truques e magias”. O segundo proferiu que, apesar de toda dificuldade, ele se manteria íntegro, postura e conduta totalmente ética e moral. Os outros, infelizmente, não posso mencioná-los, entretanto está na cara.
Você é míope de quantos graus?
A plateia sentou-se em suas cadeiras confortabilíssimas. Anunciaram o equilibrista da corda bamba. Trajava ceroulas, é claro! Lá se foi o acrobata dos ares se sustentado com apenas um dos membros inferiores. O negócio ficou tenso e preocupante quando o assistente de palco jogou em suas mãos os bastões ética e moral. Embaixo, do lado esquerdo do picadeiro, segurando plaquinhas de vaias e com dizeres “ele não vai conseguir”, “mau equilibrista, mau administrador”, “ele come jiló”, “a ceroula dele é extra GG”, estavam os opositores. O nosso político cai ou não cai? Jogaram-lhe mais dois bastões: “Administrar bem e obediência às leis”.
E agora? Esborrachou-se ou permaneceu contrabalanceando? “Bravo!”, “Viva!”, “Bis!”, “Ele é o melhor!”. Essas eram as frases das plaquinhas mostradas à platéia pelos que trajavam ceroulas da mesma cor ou do mesmo modelo – partidos ou coligações políticas – postados também embaixo, no entanto do lado direito. Quem dos expectadores aplaudiu? Por enquanto não possuo valores absolutos, todavia, por inferência do instituto “Pesquisa Riso Feito”, levando em consideração a margem de erro de dois pontos para menos e dois para mais, quantidade ínfima deles levou lentes adequadas.
Nada mais, nada menos do que ele, o fantástico ilusionista. Também conhecido como o realizador de sonhos, de obras, de bolsa família, bolsa alimentação, enfim, bolsa para todos os gostos. Mas quem disse que não é dessa forma que se resolvem os problemas sociais?
Moradia, alimentação, emprego, segurança tudo incluído em um cartão magnético. Isso não é demais. Parece algo surreal, quiçá não para a cartola e a varinha do nosso prestímano. Aliás, ele prometeu acabar com as desigualdades sociais, nem que para isso ele tenha que usar ceroulas mais frouxas.
Nestes tempos modernos das cuecas Zorba, Calvin Klein e dos modeladores corporais, por que os membros dos poderes legislativo, executivo e até do judiciário – função de promoção da justiça - preferem tapar suas vergonhas, utilizando-se para isso os modelos “longas ceroulas”? Será que é realmente necessário que eu responda?
Desculpem- me, mas a questão não está ligada em acreditar na capacidade de vocês, leitores, e, sim, na minha vontade de deixar explícito, uma vez que a maioria insiste em comparecer a este espetáculo com miopia e astigmatismo em graus elevadíssimos. Logo se justifica o uso da vestimenta, o compensador “mensalão”. Cueca fio dental sem possibilidade, caberia só meio milhão.
Agora você, caríssimo leitor, volte ao início desse texto e responda-me ao primeiro questionamento? Muito bom. Você está apto para o exercício da democracia, se tiver visto com seus próprios olhos e sem auxilio de lentes, que era desmedida naquele ambiente a quantidade de criaturas de perucas multicoloridas, vestimenta de bolinhas, rosto pintado e cara de palhaço. As cadeiras estavam repletas deles. Somente mais um questionamento.
Você viu pela TV ou estava presente lá?
Thiago Anjos (Estudante do Curso de Direito – Unipam)
Fonte: Texto: Thiago Anjos/Edição:Gisele