Estudo indica que crianças têm mais riscos de contrair do que transmitir o coronavírus
Pesquisa foi realizada em um cenário em que a variante P1, considerada mais transmissível, ainda não havia sido identificada
Um estudo liderado por pesquisadores da Fundação
Oswaldo Cruz, da Universidade da Califórnia e da London School of Hygiene and
Tropical Medicine indica que crianças têm mais riscos de contrair do que de
transmitir o novo coronavírus a adultos .
De maio a setembro de 2020, os pesquisadores
acompanharam crianças com menos de 14 anos que procuraram algum tipo de
atendimento no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, em Manguinhos.
Foram avaliados 667 participantes em 259 domicílios
na comunidade e coletados os dados de 323 crianças (de 0 a 13 anos), 54
adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos. As crianças e familiares que residiam
na mesma casa foram monitorados e submetidos a testes de PCR
e de sorologia.
A pesquisa levantou que 32,6% (79/242) das
crianças com menos de 14 anos e 31% (72/231) dos contatos familiares tiveram
testes positivos, indicando que já tinham sido expostos ao Sars-CoV-2 até
setembro de 2020. Das 45 crianças que tiveram testes positivos, 26 tiveram
contato com um adulto também positivo. Outras 19 tiveram contato com adultos
que não consentiram em fazer o teste, mas que relataram sintomas suspeitos de COVID-19
.
A pesquisa também identificou uma maior proporção de
infecção entre crianças com menos de um ano de idade (30%), em comparação com
outras faixas etárias pediátricas, o que pode estar atribuído ao contato mais
direto com as mães.
De acordo com os pesquisadores, as crianças
observadas no estudo “não parecem ser a fonte da infecção de Sars-CoV-2 e mais
frequentemente adquiriram o vírus de adultos”. O artigo do grupo aponta que “os
resultados são compatíveis com a hipótese de qu e elas [as
crianças] se infectam por contatos domiciliares, principalmente com seus pais”
A pesquisa também sugere, a partir dos dados, que
escolas e creches poderiam reabrir se as medidas de segurança contra a COVID-19
fossem inteiramente seguidas e se os profissionais da educação fossem
adequadamente imunizados.
O estudo “A dinâmica da infecção de SARS-CoV-2 em crianças e contatos domiciliares em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro”, coordenado por Patrícia Brasil, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas Instituto Nacional de Inf ectologia Evandro Chagas, foi realizado em cenário no qual a variante P.1, considerada mais transmissível, ainda não havia sido identificada.