Mais de 9 mil presos e adolescentes retomam os estudos em Minas
Salas de aula de presídios e unidades socioeducativas ficam repletas de alunos em busca da certificação do ensino fundamental e médio
Obter o certificado do ensino fundamental e médio é o objetivo de
9.747 presos e 182 adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no estado.
Nesta semana (13 e 14/10), um grupo fez o Exame Nacional para Certificação de
Competências de Jovens e Adultos para Pessoas Privadas de Liberdade (Encceja
PPL). Ao todo, 178 unidades prisionais e 21 unidades socioeducativas estão
envolvidas na ação.
Na quarta (13/10), o exame feito foi para a certificação de ensino
fundamental e, nesta quinta (14/10), para o ensino médio. A avaliação é uma
realização do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), gratuita e de participação voluntária. São quatro provas
objetivas com 30 questões cada e uma redação, de acordo com o nível de ensino
de cada candidato.
Experiência
Na quarta-feira, nove adolescentes do Centro Socioeducativo de
Governador Valadares, no Rio Doce, fizeram a prova. “O Encceja é muito importante. Sobretudo no contexto socioeducativo
pois os garotos apresentam defasagens escolares e, com o exame, têm a
oportunidade de avançar no processo de escolarização. O exame estimula a dar
continuidade aos estudos, criar e ampliar as oportunidades na vida, tudo por
meio da educação”, esclarece o diretor da unidade, Renato Douglas Barbosa.
Fabrício Gusmão, de 17 anos*, aproveita o tempo para voltar a
estudar. “O Encceja é uma oportunidade
que estou tendo de retomar meus estudos para que, quando eu retornar à
comunidade, possa trabalhar e dar uma vida melhor para a minha família”,
destaca.
A Penitenciária de Contagem I (Penitenciária Nelson Hungria) foi a
que teve o maior número de inscritos. Lá, 546 detentos participam das provas.
Segundo o diretor de Atendimento do local, Ury Ribeiro, a grande adesão é fruto
do trabalho de toda a equipe. “Entendemos
que a educação é um grande mecanismo para a ressocialização dos internos,
justamente por isso apoiamos o retorno
aos estudos com dedicação, zelo, carinho e com esperança de trazer um
mecanismo de mudança de vida para eles. O estudo é uma força que pode levar a
um futuro melhor, diferente e longe da criminalidade”, diz.
Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, 101 detentos participam da
certificação para o ensino fundamental e outros 51 para o ensino médio“A Penitenciária de Uberaba possui a
ressocialização como um dos pilares na custódia dos indivíduos privados de
liberdade e acreditamos que a educação irá contribuir para o seu retorno à
sociedade, além de ser uma conquista pessoal”, enfatiza o diretor da unidade,
Josiley Henrique da Silva.
Matriculados
O alto número de inscritos no Encceja representa também o número
de alunos matriculados na escola atualmente: 5.702 matriculados, em 122 escolas
instaladas dentro das unidades prisionais mineiras.
“A educação tem o poder de
transformar a sociedade, tornando o cidadão mais crítico e consciente da sua
própria história. É um processo em constante desenvolvimento, que envolve o
conhecer, o fazer, o conviver e o ser”, enfatiza a diretora de Ensino e Profissionalização do
Departamento Penitenciário de Minas Gerais, Regina Duarte.
A aplicação das provas é realizada pelos chefes de sala e
coordenada pelo responsável pedagógico de cada unidade prisional e
socioeducativa. Também é o responsável pedagógico quem faz o levantamento
juntamente com a equipe de segurança sobre a demanda para a realização da
prova, após manifestação dos interessados.
Repercussão
O diretor-regional de Polícia Penal da 16ª Região Integrada de
Segurança Pública, Paulo Henrique Pereira, resume a importância do Encceja para
quem está privado de liberdade: “a
educação é capaz de transformar vidas, gerando o conhecimento, abrindo novas
oportunidades e, também, a possibilidade de inserção no mercado de trabalho. E
por meio do Encceja os indivíduos privados de liberdade têm a possibilidade de
concluir os ensinos fundamental e médio e retornar ao convívio social com novas
perspectivas”.
*Nome
fictício para preservar a identidade do adolescente, conforme preconiza o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).