Ocorrências na rede elétrica causadas por queimadas quase dobram em 2021
Além de deixar hospitais, comércios e escolas sem energia, provocar incêndios pode configurar crime e acarretar prisão
Em um dos piores momentos de crise hídrica da história do país, as queimadas
estão aumentando em um ritmo alarmante e prejudicando diversos setores,
incluindo o fornecimento de energia elétrica. De janeiro a agosto de 2021,
a Cemig registrou um aumento de 95% no número de ocorrências em
comparação com o mesmo período do ano passado. Nos oito primeiros meses deste
ano, 307 queimadas interromperam o fornecimento de energia para mais de 386 mil
clientes. Nesse mesmo período do ano passado, a empresa identificou 157
incêndios que afetaram a rede de distribuição, prejudicando 216 mil
clientes.
O número de focos ativos, com ou sem ocorrência de interrupção no
fornecimento de energia, teve um aumento de cerca de 87% nos primeiros oito
primeiros meses deste ano, quando comparado com o mesmo período de 2020, de
acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Historicamente, agosto, setembro e outubro representam cerca de 77% do
total de focos de incêndios no ano, mas em 2021, o dado é preocupante: até
28/9, o número já havia ultrapassado todo o registro do ano passado e também a
média histórica.
O gerente de Saúde e Segurança do Trabalho da Cemig, João José Magalhães
Soares, destaca que o aquecimento dos cabos e dos equipamentos da rede elétrica
pode levar ao desligamento de linhas de transmissão e distribuição e
subestações, além de causar graves acidentes com pessoas que estão próximas a
essas áreas.
“Um dos maiores desafios para as equipes de campo é chegar ao maquinário
danificado pela queimada para fazer o reparo. Normalmente, eles ficam em locais
de difícil acesso e em áreas muito amplas. Além disso, levar estruturas
pesadas, como torres e postes, em áreas acidentadas torna ainda mais
desafiadora a manutenção das redes danificadas pelos incêndios”,
conta.
Período chuvoso
O meteorologista Arthur Chaves afirma que o período chuvoso no
Sudeste do país deve começar apenas em outubro. Em algumas regiões de Minas
Gerais, como a faixa Norte do estado, as chuvas podem atrasar até a primeira
semana de novembro.
“Com a vegetação seca, qualquer princípio de fogo pode causar um grande
incêndio. Dessa forma, é importante que as pessoas não façam nenhum tipo de
queimada, mesmo aquelas que possam julgar controláveis, pois, devido às altas
temperaturas e à umidade baixa, o fogo pode sair do controle e causar grande
destruição”, explica. Além disso, devido à crise hídrica, o combate às
queimadas fica prejudicado pela baixa disponibilidade de água para bombeiros e
brigadistas.
Outro aspecto que também deve ser levado em conta é que, com muitas
usinas hidrelétricas chegando ao limite mínimo da sua geração, qualquer linha
de transmissão que ficar indisponível por queimadas pode levar a grandes
interrupções no fornecimento de energia.
Além de deixar hospitais, comércios e escolas e residências sem energia,
promover queimadas pode ser considerado crime passível de prisão. De acordo com
o artigo 41 da Lei 9.605/98, provocar incêndio em mata ou floresta é tipificado
como crime ambiental, que pode resultar em pena de reclusão de dois a quatro
anos, além de multa.
Fonte: Agência Minas