Polícia Civil alerta para os riscos do consumo de maconha sintética
Spice, K2, K4, maconha sintética.
Essas são algumas das denominações populares de drogas ilícitas classificadas
cientificamente como canabinoides sintéticos, que segundo estudos recentes
apresentam enorme risco à saúde pública. Desde o início do ano, a Polícia Civil
de Minas Gerais (PCMG) vem registrando um aumento expressivo na identificação
desse tipo de entorpecente que pode provocar graves efeitos à saúde, incluindo
overdose fatal.
Conforme explica o Perito Criminal do
Instituto de Criminalística, Pablo Alves Marinho, em cerca de 30% das drogas
sintéticas analisadas pela PCMG recentemente, que são encontradas na forma de
papel (semelhantes a selos de LSD), foram identificados os canabinoides
sintéticos. “É chamada popularmente de maconha sintética, por ser sintetizada
em laboratórios. Mas, diferente da natural (cannabis), já existem relatos em
diversos países de overdose e morte decorrente do abuso dessas substâncias”.
Dentre alguns dos efeitos colaterais
nocivos do consumo dos canabinoides sintéticos, estão psicose, paranoia,
confusão mental, irritabilidade, automutilação, taquicardia e arritmia. “Em
alguns casos, pode ser suficiente um único consumo para provocar uma overdose”,
alerta Marinho. “Por se tratar de uma droga nova no mercado ilícito, não há
como o usuário saber sobre a quantidade da droga incorporada no papel, não
havendo consumo seguro dessas substâncias”, esclarece.
Segundo a United Nations Office on
Drugs and Crime (UNODC), agência da ONU responsável por controlar as drogas
ilícitas em todo o mundo, os primeiros relatos de uso abusivo — quando uma
droga passa a ser utilizada indiscriminadamente para fins recreacionais — da
maconha sintética datam de 2008. Ainda de acordo com a agência, de 2009 a 2020,
mais de mil novas substâncias psicoativas em circulação foram reportadas pelos
laboratórios forenses ao redor do mundo.
Inicialmente, algumas dessas substâncias
químicas foram sintetizadas para fins terapêuticos, mas dado os efeitos
colaterais não foram registradas para tratamentos médicos. “Ficaram conhecidas
como maconha sintética porque as moléculas dessas drogas ativam os mesmos
receptores que o THC (princípio ativo da maconha) se liga no nosso corpo, porém
com maior potência”, revela Marinho.
Desde então, observou-se a
popularização da droga em vários países no mundo por seu potencial abusivo. “O
preocupante é constatarmos esse aumento abrupto de circulação dessas drogas em
Minas Gerais, baseado em nossas análises periciais”, afirma o policial.
“Felizmente, a PCMG está bem capacitada e com recursos de ponta à disposição
para esse trabalho, que é essencial para processo criminal”.
Qualificação
Para tanto, o laboratório de química
do Instituto de Criminalística, responsável por periciar todas as drogas
sintéticas apreendidas no estado, conta com cromatógrafos sofisticados,
equipamentos essenciais ao exame de detecção acurada das substâncias ilegais. “Mas
não é só isso. Por se tratar de uma droga relativamente nova, é um desafio
constante para os peritos criminais, que estão diariamente se atualizando nas
metodologias para identificação desses compostos”, ressalta o Perito Criminal.
Há indícios de que a maconha
sintética ainda chegue ao Brasil de laboratórios espalhados pelo mundo na forma
líquida ou em pó e, então, distribuída ilegalmente por traficantes que visam,
sobretudo, os jovens com alto poder aquisitivo. “Por isso, alertamos que se
trata de um risco grande à saúde, uma vez que esse público pode nem saber o que
está consumindo”, destaca o Perito, esclarecendo que a droga é incorporada
usualmente em papel ou misturada a ervas diversas — que em si não são
entorpecentes — e, em seguida, queimada e inalada. “Visualmente, ela não é tão
facilmente identificável. Por isso, até para as forças de segurança, em
situações de apreensão, recomenda-se que sempre seja manuseada com luvas, caso
haja suspeita da presença da droga sintética, a fim de se evitar a absorção
pela pele”.
ASCOM-PCMG