Ressocialização: Paciente psiquiátrico que estava preso em Uberlândia há sete anos, reencontra família no Ceará

O homem tem diagnóstico de esquizofrenia e não tinha nenhum parente na cidade.

Notícias | Sociedade

12 Agosto, 2021

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Ressocialização: Paciente psiquiátrico que estava preso em Uberlândia há sete anos, reencontra família no Ceará


Progredir no cumprimento de pena para o regime aberto, na condição de paciente psiquiátrico, com diagnóstico de esquizofrenia e sem nenhum parente em Uberlândia seria a certeza de Halyson Lima Alves, 38 anos, abandonar a medicação e o acompanhamento médico, deixar de ser responsável por suas ações, voltar a cometer crimes e, consequentemente, reingressar no sistema prisional. Felizmente, graças a uma articulação do Sistema Prisional com a Defensoria Pública e o Tribunal de Justiça, isso não aconteceu.

Na semana passada, no dia 3/8, após sete anos preso no Presídio de Uberlândia I (Professor Jacy de Assis), no Triângulo Mineiro, Halyson embarcou no aeroporto de Uberlândia, escoltado por dois policiais penais, em um voo para Campinas (SP). Fez conexão com os policiais para a cidade de Juazeiro do Norte (CE), para em seguida viajar 70 quilômetros de carro até Brejo Santo (CE), chegando uma hora da madrugada do dia 4/8, onde voltou a morar com o pai, a mãe e um filho. Durante todos os anos de prisão em Minas a família sempre esteve a mais de 2 mil quilômetros de distância.

O reencontro somente foi possível com o apoio da Defensoria Pública, que conseguiu que o juiz da Comarca de Uberlândia vinculasse o regime aberto à prisão domiciliar, para tornar possível a escolta até o Ceará e o retorno de Halyson para morar com sua família.

A subdiretora de Humanização do Atendimento do Presídio de Uberlândia I, Janaína Pessoa, faz questão de deixar claro o significado do conceito de ressocialização no sistema prisional: oferecer dignidade, tratamento humanizado, conservando a honra e a autoestima do preso. “Foi muita emoção fazer parte desta força-tarefa em busca do retorno de Halysson ao seio familiar. É o resultado esperado, diante de um trabalho árduo, cheio de limitação, o qual não podemos nos prender ao impossível. Realmente, a união das forças e o trabalho em equipe fazem toda a diferença”, avalia.

Agora, Halyson cumpre prisão domiciliar em Brejo Santo (CE), e seu vínculo é com o Tribunal de Justiça do Ceará. Uma vez por mês, ele tem que se apresentar no Fórum do município para assinar o termo de compromisso do regime aberto com prisão domiciliar.

Trajetória

Em meados de 2013, quando estava preso na Penitenciária de Uberlândia I (Professor João Pimenta da Veiga), Halyson recebeu alvará de soltura e foi recebido pela mãe e um tio, sendo levado de volta ao Ceará. Mas em 2014 ele retornou para a Região do Triângulo, onde cometeu novos crimes e, pelos seus relatos muitas vezes desconexos, devido aos transtornos mentais, parece ter sido morador de rua. No reingresso ao sistema prisional foi conduzido para o Presídio de Uberlândia.

Por se tratar de paciente psiquiátrico, foi acompanhado pelo Serviço de Saúde Mental do município, com passagens pelo Ambulatório de Psiquiatria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), por um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), e ainda pela equipe Psicossocial e de Saúde da unidade prisional, bem como pela equipe do Projeto Além das Grades. Ele esteve acolhido em uma das celas no Núcleo de Saúde, em razão de ser uma pessoa com dificuldade de assumir-se como sujeito responsável por suas ações, necessitando de apoio e atenção diferenciados, incluindo medicação supervisionada.

Ao final de 2019, por meio de diversas buscas dos profissionais do Serviço Social do presídio, foi possível conseguir o telefone da mãe, porém, os contatos eram limitados pela dificuldade de acesso a sinal telefônico. Foi um trabalho de investigação, com a ajuda de servidores do Fórum, da Polícia Militar e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).

Em abril de 2020, em razão da sua progressão de regime para o semiaberto, com benefícios externos, os quais ele cumpriu dentro da unidade prisional por não reunir condições de sair, e sequer ter estrutura familiar na cidade, o contato familiar foi intensificado, sendo realizadas algumas visitas virtuais com a mãe, a irmã e o filho, permitindo resgatar os vínculos afetivos.

Parentes imaginários

No Núcleo de Saúde do Presídio de Uberlândia, Halyson teve um companheiro de cela chamado Sebastião Lino, 43 anos. Ele não possui transtornos mentais, mas um sério problema de coluna. O Lino, como é chamado pelos servidores da unidade, tornou-se “irmão” de Halyson e teve um papel fundamental no tratamento e melhora de seu colega. “Sempre falei com ele sobre a importância de tomar corretamente os remédios e de parar de pensar no passado. Quando começava a bater com a cabeça contra a parede eu conversava com ele e conseguia acalmá-lo. Aprendi com Halyson a ter paciência e a fazer origami”, relata Lino.

Halyson aprendeu a fazer origami quando esteve preso na Penitenciária de Uberlândia (Professor João Pimenta da Veiga). Após apresentar melhoras significativas na saúde mental, relembrou das técnicas da arte japonesa de dobradura de papel e passou a ensinar ao colega que se tornou amigo/irmão.

A assistente social Márcia Aurélia Caldeira tornou-se a “mãe mineira” de Halyson. A psicóloga era a avó, um dos policiais penais atuantes dentro do pavilhão carcerário era o pai. Mas essas relações de parentesco eram apenas uma forma de o paciente se sentir seguro e acolhido, pois ele sabia exatamente quem era quem, explica a assistente social.

Um dos maiores medos e vergonha de reencontrar a família era a falta de praticamente todos os dentes da arcada dentária superior. Quem resolveu o problema foi uma dentista da unidade, encomendando uma prótese total removível (PTR). Foi o suficiente para o restabelecimento de um largo sorriso e mais um estímulo para o retorno ao lar.

“Já tivemos diversos pacientes psiquiátricos aqui no presídio, mas este foi um caso especial. Conseguimos, graças ao apoio de muitos profissionais, ajudar e encaminhar o Halyson, com os devidos cuidados necessários, para junto de sua família. Temos mantido contato com ele por telefone”, conclui feliz a “mãe mineira”.

Fonte: DEPEN / Foto de capa: Divulgação ASCOM Sejusp

 

Nayala Gontijo

gontijonayalas@gmail.com




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