Nova lei retoma política nacional de educação em tempo integral
Presidente Lula sanciona legislação sobre o assunto nesta quarta
A
criação do Programa Escola em Tempo Integral representa uma retomada da
política nacional para ampliação de matrículas no ensino em tempo integral,
segundo avaliam os especialistas ouvidos pela Agência Brasil. A lei
que cria o programa será sancionada nesta quarta-feira (26) pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A
nova legislação regulamenta o repasse de recursos e de assistência técnica da
União para estados, Distrito Federal e municípios, visando ampliar o número de
vagas nessa modalidade de ensino, que prevê uma jornada igual ou superior a 7
horas diárias, ou 35 horas semanais. Segundo o Ministério da Educação (MEC),
serão investidos R$ 4 bilhões no programa, que tem a meta de criar, até o ano
de 2026, 3,6 milhões de novas vagas, sendo 1 milhão de novas matrículas logo na
primeira etapa.
Retomada
Para
a diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, Natacha Costa, a lei
representa a retomada de uma agenda nacional para escolas em tempo integral,
uma vez que o programa sofreu uma redução a partir do governo de Michel Temer.
“Temer
transformou o Programa Mais Educação no Programa Novo Mais Educação, este com
foco apenas em reforço escolar. Então, houve um reducionismo da concepção do
programa. Além disso, o investimento caiu drasticamente. Bolsonaro extinguiu o
programa. A iniciativa de ampliação da jornada no ensino médio [nesse período]
foi tomada como agenda pelos estados com o apoio de institutos e fundações
privadas”, destacou a especialista da organização que, há mais de 25 anos, atua
na área da educação no Brasil.
Segundo
Natacha, a política de escolas em tempo integral ganhou dimensão nacional pela
primeira vez em 2007, com a criação do Programa Mais Educação. Em 2014, o Plano
Nacional de Educação (PNE) estabeleceu como meta que 50% das escolas do país
devem oferecer ensino em tempo integral, com 25% dos alunos matriculados nessa
modalidade até o final de 2024.
Porém,
entre 2015 e 2021, o percentual de alunos de escolas públicas em tempo integral
caiu de 18,7% para 15,1% do total de matrículas, segundo levantamento da
Campanha Nacional pelo Direito à Educação feito com dados do Censo Escolar do MEC.
Com isso, o Brasil está a 10 pontos percentuais de atingir a meta do PNE.
Recursos
Para
a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a política
nacional de escola em tempo integral sofreu nos últimos anos devido à falta de
investimentos.
“Nesse
período, a falta de investimentos e de um olhar para essa questão fez com que
ou se paralisasse ou se caminhasse a passos muito curtos. Você também não teve
um olhar para o financiamento de outras políticas, como da alimentação escolar
e da reorganização do transporte. Isso gerou uma falta de estímulo e até um efeito
paralisia porque os municípios e estados não tiveram recursos para arcar com
todo esse custo”, destacou o presidente da Undime, Luiz Miguel Garcia, que
também é dirigente municipal de educação do município de Sud Mennucci (SP).
Garcia
acrescentou que a criação do Programa Escola em Tempo Integral é importante,
sendo fundamental que haja um ajuste no financiamento.
“Esse
é o elemento central. Nós temos aí todo um processo de capacitação, de
estruturação de equipe, de pessoal e de proposta pedagógica. Mas tudo isso
passa pela garantia do financiamento. Sem essa garantia, a gente não consegue
avançar em nenhum desses outros pontos.”
Os
recursos já anunciados para a política de escola em tempo integral não devem
ser suficientes, segundo avaliação do presidente da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo.
“Se
o Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizou e encontrou que mais da metade
das escolas são inapropriadas, R$ 4 bilhões nos quatro anos do programa são
suficientes para recuperar essas escolas?”, questionou o presidente do CNTE,
para quem é preciso recuperar as escolas que existem e criar novas para o tempo
integral.
Heleno
se referiu a fiscalização do TCU que concluiu que 57% das escolas públicas são
inapropriadas.
Araújo
ponderou ainda que a nova legislação é importante e necessária, mas que falta
uma base normativa mais sólida para sustentar programas como esse que, segundo
ele, ficam à mercê do governo “de plantão”. Ele citou a ausência de uma lei
para o sistema nacional de educação “que nós entendemos que deve articular as
questões financeiras e técnicas entre os entes federados” e a ausência de leis
locais para gestão democrática da educação brasileira. “São leis fundamentais
para você articular os sistemas de ensino federal, estaduais, distrital e
municipais”, opinou.
Fonte: Agência
Brasil