Novo ensino médio começa a ser implementado este ano no Brasil
Primeira mudança deve ser ampliação da carga horária
O novo ensino médio começa a ser
implementado oficialmente este ano nas escolas brasileiras públicas e privadas.
Segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed),
Vitor de Angelo, a implementação vai começar pelo primeiro ano do ensino médio,
e a primeira mudança nas redes deverá ser a ampliação da carga horária para pelo
menos cinco horas diárias.
A reforma também trará desafios,
de acordo com Vitor de Angelo, que é secretário de Educação do Espírito Santo.
Ele citou, entre esses desafios, a possibilidade de aumento da desigualdade
entre regiões, estados e redes de ensino e a necessidade da adequação de
avaliações, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“A primeira coisa que deve chegar
às escolas, com certeza, é a ampliação da carga horária, porque é uma exigência
legal. O que não é exigência legal, mas está atrelado de alguma maneira a isso
é a implementação de um currículo novo”, diz Angelo. O Consed representa os
secretários estaduais de Educação, responsáveis pela maior parte das matrículas
do ensino médio do país. Segundo o último Censo Escolar, de 2021, as redes
estaduais concentram cerca de 85% das matrículas.
O novo ensino médio foi aprovado
por lei em 2017, com o objetivo de tornar a etapa mais atrativa e evitar que os
estudantes abandonem os estudos. Com o novo modelo, parte das aulas será comum
a todos os estudantes do país, direcionada pela Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).
Na outra parte da formação, os
próprios alunos poderão escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado.
Entre as opções está dar ênfase, por exemplo, às áreas de linguagens,
matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ao ensino técnico. A
oferta de itinerários vai depender da capacidade das redes de ensino e das
escolas.
O cronograma definido pelo
Ministério da Educação estabelece que o novo ensino médio comece a ser
implementado este ano, de forma progressiva, pelo primeiro ano do ensino médio.
Em 2023, a implementação segue, com o primeiro e 2segundo anos e, em 2024, o
ciclo de implementação termina, com os três anos do ensino médio.
Pela lei, para que o novo modelo
seja possível, as escolas devem ampliar a carga horária para 1,4 mil horas
anuais, o que equivale a 7 horas diárias. Isso deve ocorrer aos poucos. Em
2022, a carga horária deve ser de pelo menos mil horas anuais, ou cinco horas
diárias, em todas as escolas de ensino médio do país. Esta será, portanto, a
primeira mudança a ser sentida.
Os estudantes do primeiro ano do
ensino médio começarão também a ter contato com novo currículo. Os itinerários,
no entanto, deverão começar a ser implementados apenas no ano que vem na maior
parte das escolas.
“Tomando o Espírito Santo como
exemplo, o que o aluno capixaba vai encontrar na escola de ensino médio é
jornada maior e currículo novo, no que diz respeito à formação geral básica.
Disciplinas ou componentes curriculares diferentes, com os quais ele não estava
acostumado, como eletivas, projeto de vida, estudo orientado, mas ainda sem
segmentar na sua preferência de itinerário. A partir do ano que vem, ele vai
encontrar o itinerário de aprofundamento dentro da sua escolha”, explica o
secretário.
Desafios
A reforma trará também, segundo
Angelo, alguns desafios, entre eles a possibilidade de aumento das
desigualdades educacionais. “No novo ensino médio, a gente pode ter todas as
promessas de itinerários e de escolhas, mas para algumas redes. Outras podem
não conseguir”, afirma. “O risco é ter escolas com alguns itinerários e outras
não, regiões com alguns itinerários e outras não. Então, pode haver um
aprofundamento das desigualdades dentro do país e dos estados, para não falar
das redes privada e pública”, acrescenta.
Isso significa que um estudante
pode não encontrar em seu município o curso técnico ou a formação que deseja.
"São cuidados que precisaremos ter, que não invalidam [o novo ensino
médio], mas a gente não pode desconsiderar que isso existe para não achar que
tudo são flores, que o novo ensino médio vai mudar tudo, vai trazer
itinerários, ensino flexível adaptado aos alunos, que eles vão fazer o que
quiser. As nossas escolas são as mesmas e elas têm dificuldades, os professores
tiveram formação, mas não viraram a chave e mudaram de uma hora para outra,
então é preciso ter cuidado com isso para não se frustrar", diz Angelo.
Outro desafio é a avaliação dos
estudantes. O Enem, por exemplo, precisará ser reformulado para avaliar o novo currículo.
“O exame precisa estar alinhado com o novo ensino médio. O Enem é uma prova
nacional que precisa criar critérios de comparação entre todo e qualquer
estudante que está terminando o ensino médio, especialmente por causa do
Sistema de Seleção Unificada, o Sisu que é nacional. Mas, como vamos comparar,
nacionalmente, pessoas que fizeram currículos distintos? Esse é o maior
desafio”, avalia.
Em webinário, em dezembro, o
secretário de Educação Básica do MEC, Mauro Luiz Rabelo, detalhou as ações da
pasta para a implementação do novo ensino médio. Segundo ele, somando todas as
ações, até aquele momento, haviam sido repassados aos estados e às escolas R$
2,5 bilhões.
Rabelo também falou sobre o Enem
que, segundo ele, deverá ter duas partes, uma delas voltada para avaliar os
conhecimentos adquiridos na parte comum a todos os estudantes, definida pela
BNCC, e outra que deverá avaliar os itinerários formativos. “Atualmente, a
grande questão mesmo é como criar um segundo momento de prova que contemple a
avaliação dos itinerários formativos, dada a diversidade de possibilidades que
na implementação”, disse o secretário. O novo modelo de prova deverá começar a
vigorar apenas após a total implementação do novo ensino médio, em 2024.
Fonte: Agência Brasil/Foto: Maré de Notícias