Em dois anos de pandemia de Covid-19, Patos de Minas já registrou mais de 30 mil casos da doença
581 patenses perderam a vida em decorrência do vírus
No dia em que se completam dois anos
que a Organização Mundial de Saúde decretou a pandemia da Covid-19, Patos de
Minas chegou a 30.328 casos confirmado do novo coronavírus.
Segundo o informe desta sexta-feira
(11), 106 novos casos de Covid-19 foram confirmados em Patos de Minas. De
acordo com a Prefeitura são 19 positivos do dia 10/03, 4 do dia 09 deste mês e
83 de dias anteriores.
Nenhum óbito foi registrado no
município em decorrência da doença respiratória, sendo assim desde o início da
pandemia 581 mortes já foram registradas. De acordo com os dados ofertados pelo
município, 29.554 patenses venceram a doença.
Em relação aos leitos públicos, 6,66%
das unidades de terapia intensiva (UTI’s) estão ocupadas com pacientes
diagnosticados com Covid-19 e 0% de ocupação nas enfermarias.
Dois anos de pandemia:
A pandemia de covid-19 completa hoje
(11) dois anos, e o sobe e desce das curvas de casos e óbitos ao longo deste
período teve dois fatores como protagonistas: as variantes e as vacinas. Se, de
um lado, esforços para desenvolver e aplicar imunizantes atuaram no controle da
mortalidade e na circulação do SARS-CoV-2, do outro, a própria natureza dos
vírus de evoluir, adquirir maior poder de transmissão e escapar da imunidade
fez com que as infecções retomassem o fôlego em diversos momentos. Moldada por
essas forças, a pandemia acumula, em termos globais, quase 450 milhões de casos
e mais de 6 milhões de mortes, além de 10 bilhões de doses de vacinas aplicadas
e 4,3 bilhões de pessoas com duas doses ou dose única, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Integrante do Observatório Covid-19,
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Raphael Guimarães explica que, ao se
multiplicar, qualquer vírus pode evoluir para uma versão mais eficiente de si
mesmo, infectando hospedeiros com mais facilidade. Quando a mutação dá ao vírus
um poder de transmissão consideravelmente maior que sua versão anterior, nasce
uma variante de preocupação.
“O que a gente vive dentro de uma
pandemia é uma guerra em que a gente está tentando sobreviver, e o vírus também
está tentando”, resume Guimarães. “Cada vez que a gente dá a ele a chance de
circular de forma mais livre e tentar se adaptar a um ambiente mais inóspito, o
que ele está fazendo é tentar alterar sua estrutura para sobreviver.”
O presidente da Sociedade Brasileira
de Infectologia, Alberto Chebabo, acrescenta que impedir que um vírus sofra
mutações ao se replicar é impossível, porque isso é da própria natureza desses
micro-organismos. Apesar disso, é possível, sim, dificultar esse processo,
criando um ambiente com menos brechas para ele circular. E é aí que as vacinas
cumprem outro papel importante.
“A gente pode reduzir esse risco
aumentando a cobertura vacinal no mundo inteiro. A Ômicron apareceu na África,
que é o continente com menor cobertura vacinal”, lembra ele. Enquanto Europa,
Américas e Ásia já têm mais de 60% da população com duas doses ou dose única, o
percentual na África é de 11%. “Se a gente conseguir equalizar a cobertura
vacinal nos diferentes países, a gente tem um menor risco de ter uma variante
aparecendo dessa forma”, diz Chebabo.
É unânime entre os pesquisadores
ouvidos pela Agência Brasil que, se as ondas de contágio podem ser
relacionadas à evolução das variantes, o controle das curvas de casos e óbitos
se deu com a vacinação. A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações
(SBIm), Flávia Bravo, afirma que é inegável o papel das vacinas na queda da
mortalidade por covid-19 ao longo destes dois anos.
“No início, vacinaram-se os idosos
mais velhos, para depois ir descendo por idade e para pacientes com comorbidades.
E, se olhar no miúdo a interferência da vacina no número de mortes, fica
evidente, a partir da vacinação desse grupo das maiores vítimas, uma queda
coincidindo com o aumento da cobertura”, avalia ela, que também resume a
pressão das variantes no sentido contrário, aumentando os casos: “Começamos no
Brasil com a cepa original, depois a Gama começou a predominar, foi substituída
pela Delta, veio a Ômicron, e esse balanço nas nossas curvas foi acompanhando
justamente essas novas variantes que foram se espalhando pelo mundo.”
A pediatra considera que problemas na
disponibilidade de vacinas no início da imunização e a circulação de variantes
também levaram o Brasil a ser um dos países mais afetados pela pandemia de
covid-19, com mais de 650 mil mortes causadas pela doença, o segundo maior
número de vítimas do mundo, e uma taxa de 306 mortes a cada 100 mil habitantes,
a segunda maior proporção entre os dez países que mais tiveram vítimas da
doença.
“Se a vacinação tivesse começado mais
cedo e com uma oferta de doses maior desde o início, com certeza o panorama que
a gente vivenciou teria sido diferente. Mas, ainda que tenhamos atrasado o
início e a disponibilidade de doses também tenha demorado, chegamos a
coberturas tão boas ou até melhores que muitos países, inclusive com esquema
completo”, afirma a diretora da SBIm.
Variantes de preocupação:
Desde que o coronavírus original
começou a se espalhar, a OMS classificou cinco novas cepas como variantes de
preocupação. Mais sete chegaram a ser apontadas como variantes sob
monitoramento ou variantes de interesse, mas não reuniram as condições
necessárias para justificarem o mesmo nível de alerta. Para que as mutações
genéticas do vírus sejam consideradas de preocupação, elas devem ter
características perigosas, como maior transmissibilidade, maior virulência,
mudanças na apresentação clínica da covid-19 ou diminuição da eficácia das
medidas preventivas.
O padrão de batizar as variantes com
letras do alfabeto grego foi uma alternativa adotada pela OMS para evitar que
continuassem sendo identificadas por seu local de origem, como chegou a
acontecer com a Alfa, a que veículos de comunicação se referiam frequentemente
como variante britânica. Associar uma variante a um país ou região pode gerar
discriminação e estigmas, justifica a organização, que acrescenta que essa
nomenclatura também simplifica a comunicação com o público e é fácil de
pronunciar em vários idiomas.
Gama:
Virologista e coordenador da
Vigilância Genômica de Viroses Emergentes da Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca
coordenou o trabalho que confirmou a existência da variante Gama, a que teve
maior impacto na mortalidade da covid-19 no Brasil. Ele explica que, ao longo
do tempo, o coronavírus adquiriu maior transmissibilidade ao acumular mutações
que permitiram o escape de anticorpos, aumentaram a replicação e facilitaram a
entrada nas células.
Com essas vantagens, as variantes
Alfa e Beta causaram aumentos de casos e óbitos em outros países, mas não chegaram
a se disseminar a ponto de mudar o cenário epidemiológico no Brasil. Por outro
lado, o pior momento da pandemia no país, nos primeiros quatro meses do ano
passado, está diretamente ligado à variante Gama.
"A Gama foi o nosso grande
terror, porque foi o surgimento de uma variante de preocupação aqui antes que a
gente tivesse iniciado a vacinação. Até a gente conseguir avançar, ela já tinha
se espalhado".
A disseminação da variante Gama
causou colapso no sistema de saúde do Amazonas entre o fim de dezembro e
janeiro de 2021. A sua disseminação pelo país levou à lotação das unidades de
terapia intensiva em praticamente todos os estados ao mesmo tempo. O cenário
continuou a se agravar até março e abril de 2021, quando a média móvel de
mortes por covid-19 teve picos de mais de 3 mil vítimas diárias. Em 17 de
março, a Fiocruz
classificou a situação como o maior colapso sanitário e hospitalar da
história do Brasil.
Iniciada em 17 de janeiro, a
vacinação no Brasil ainda estava em estágio inicial durante a disseminação da
variante Gama, e, quando o pico de óbitos foi atingido, menos de 15% da
população tinha recebido a primeira dose. À medida que a vacinação dos grupos
prioritários avançava, porém, a média móvel de mortes começou a cair no Brasil
a partir de maio de 2021, e instituições como a Fiocruz chegaram a apontar uma
queda na média de idade das vítimas de covid-19, uma vez que os mais velhos
tinham cobertura vacinal maior que adultos e jovens.
Delta:
Enquanto a curva da variante Gama
descia no Brasil em maio, a variante Delta mostrava seu poder de transmissão na
Índia desde abril e levava a outra situação de colapso que alarmava autoridades
de saúde internacionais. Segundo dados da OMS, mais de 100 mil indianos
morreram de covid-19 somente em maio, e a organização declarou a Delta uma
variante de preocupação no dia 11 daquele mês.
A variante Delta se espalhou e
diversos países como Indonésia, Estados Unidos e México tiveram altas na
mortalidade entre julho e agosto. No Brasil, a vacinação dos grupos de risco e
a recente onda da variante Gama produziram o que os pesquisadores chamam de
imunidade híbrida.
"É a imunidade das vacinas
somada à imunidade da infecção natural", explica o virologista. "O
problema da imunidade natural é que milhares de pessoas morreram. Não é algo
que a gente possa pensar como uma estratégia, mas aconteceu. A gente não viu
nem de perto o que aconteceu com a Gama acontecer com a Delta."
Ômicron:
Apesar disso, a variante Delta
substituiu a Gama como a principal causadora dos casos de covid-19 no país ao
longo do segundo semestre de 2021, e manteve esse posto até que fosse derrubada
pela Ômicron. A última variante de preocupação catalogada, até então, teve seus
primeiros casos identificados no Sul da África em novembro de 2021, e, a partir
da segunda quinzena de dezembro, países de todos os continentes registraram um
crescimento de casos em velocidade sem precedentes. Ao longo de todo o mês de
janeiro de 2022, o mundo registrou mais de 20 milhões de casos de covid-19 por
semana, enquanto o recorde anterior era de quase 5,7 milhões por semana,
segundo a OMS.
Entre todas as variantes, a Ômicron é
a que acumula mais mutações, garantindo uma capacidade de contágio muito maior
que as demais. Além disso, explica Fernando Naveca, também é a mais capaz de
escapar das defesas imunológicas, causando reinfecção e infectando pessoas
vacinadas, ainda que sem gravidade em grande parte das vezes. Diferentemente da
Gama, a variante supertransmissível encontrou um cenário de vacinação mais
ampla, com mais de 60% da população brasileira com duas doses e dose única, e
grupos de risco já com acesso à dose de reforço.
Antes da variante Ômicron, o recorde
na média móvel de novos casos de covid-19 no Brasil era de 77 mil por dia.
Entre 20 de janeiro e 20 de fevereiro de 2022, porém, o país repetiu dia após
dia uma média móvel de mais de 100 mil casos diários, chegando a quase 190 mil
casos por dia no início de fevereiro, segundo dados do painel Monitora
Covid-19, da Fiocruz. Cidades como o Rio de Janeiro registraram, somente no mês
de janeiro de 2022, mais casos de covid-19 que em todo o ano de 2021, quando as
variantes Gama e Delta eram as dominantes.
Ainda que o número de mortes tenha
subido com o pico da variante Ômicron, a média móvel de vítimas não superou os
mil óbitos diários nenhuma vez em 2022, enquanto, em 2021, todos os dias entre
24 de janeiro e 30 de julho tiveram média de mais de mil mortes. Essa diferença
tem relação direta com a cobertura vacinal atingida pelo país, que já tem 73%
da população com duas doses ou dose única e 31% com dose de reforço.
"Felizmente, tivemos um pico
absurdo de casos que não se refletiu em um número tão alto de casos graves.
Então, a não ser que surja outra variante, a gente deve viver um período mais
tranquilo, porque tivemos muita vacinação e um pico grande da Ômicron. Isso
deve nos ajudar a ter uma queda de casos", espera o pesquisador.
Fonte: Agência Brasil