Ministério da Saúde classifica bariátrica como essencial e cirurgia deve ser priorizada na saúde pública
Apesar de fundamental para reduzir chance de óbitos e agravamento de casos da COVID-19, as cirurgias bariátricas tiveram queda de 69,9% no número de procedimentos realizados pelo SUS no último ano
O Brasil perdeu 36.331 vidas nesta pandemia
de pessoas com obesidade, fator de risco para o agravamento de quadros da COVID-19.
Somente na capital federal, 15,3% dos óbitos relacionados ao vírus foram de
brasilienses com essa comorbidade. Por conta desse cenário, o Ministério da
Saúde classificou a cirurgia bariátrica como um dos procedimentos eletivos
essenciais.
A operação deverá ser priorizada na saúde
pública e suplementar com retomada dos procedimentos em até 12 semanas, a
contar do começo de julho, quando a recomendação foi publicada no documento
Diretrizes da Atenção Especializada no Contexto da Pandemia de COVID-19, do
Governo Federal.
Ao contrário de doenças pré-existentes como
cardiopatia e diabetes, responsáveis pela maior parte dos casos de óbitos
relacionados à COVID-19 de pessoas com comorbidades, a obesidade tem como
característica a letalidade maior em pessoas com menos de 60 anos que acabam
falecendo por conta da infecção, como mostra o último boletim epidemiológico
especial publicado pelo Ministério da Saúde. Foram 21.336 óbitos registrados
nessa população, enquanto 14.995 mortes foram de idosos.
Questão de saúde
Todos esses fatos e estatísticas mostram que
a cirurgia indicada em casos de obesidade é um procedimento baseado na saúde do
paciente. É isso que explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Fábio Viegas. O especialista avalia que
entender a cirurgia bariátrica como um procedimento estético é minimizar a obesidade
mórbida.
“O
paciente obeso mórbido possui uma incidência elevadíssima de morte precoce. 70%
dos pacientes obesos mórbidos vão morrer antes dos 50 anos de idade, e vão
morrer porque possuem hipertensão grave, diabetes, câncer de mama, câncer de endométrio,
câncer de colo, vão morrer de apneia do sono, ou vão desenvolver insuficiência
cardíaca, enfim. São mais de cinquenta doenças associadas.”
O médico ressalta ainda que é preciso
analisar a obesidade mórbida como uma doença, pois o senso comum ainda enxerga
o fator como algo possível de mudança, algo exclusivamente comportamental. “O obeso mórbido não é obeso porque quer.
Nós estamos falando de uma doença que é metabólica, que é genética, que é
multifatorial. Hoje, a obesidade mórbida é a principal causa de mortalidade no
mundo, e, no Covid grave, nós assistimos uma incidência elevadíssima de
pacientes jovens morrendo de COVID-19 porque eram obesos”, lembra.
Saúde afetada
Mariana Areal, 26 anos, realizou a cirurgia
há pouco mais de um ano, por perceber que o sobrepeso estava prejudicando a
saúde de diversas formas. “A minha saúde
já estava muito afetada, eu tinha esteatose hepática, estava pré-diabética e
alguns problemas que o sobrepeso acaba acarretando. Minha vida mudou
totalmente. Eu tenho motivação para fazer pequenas coisas, coisas do dia a dia,
que o peso atrapalhava. Porque também é um processo psicológico”, conta.
A estudante também cita o preconceito que
existe na sociedade em relação à obesidade, diferente de outras doenças comuns. “Fui muito criticada por fazer essa
escolha, com a idade que eu tenho, e ainda existe uma visão de que a cirurgia
bariátrica é considerada muito perigosa, muito agressiva, mas isso mudou. A
falta de informação também gera um preconceito. Sempre tem alguém que vai falar
que era só fazer dieta, ir para a academia, ‘trancar’ a boca. Sempre tem alguém
para julgar um processo pelo qual não tem conhecimento, mas a cirurgia era meu
último recurso para recuperar a saúde”, diz Mariana.
Queda na pandemia
Apesar de fundamental para reduzir chance de
óbitos e agravamento de casos de infecção pelo novo coronavírus, as cirurgias
bariátricas tiveram queda de 69,9% no número de procedimentos realizados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) no último ano. Foram realizados 12.568 tratamentos
cirúrgicos de obesidade em 2019 e apenas 3.772 em 2020.
Em 2021, até o mês de maio, o SUS registrou
somente 484 cirurgias. No documento de diretrizes da atenção especializada do
Ministério da Saúde, há o destaque de que o retardo no tratamento da obesidade
pode resultar no aumento da morbimortalidade, e que é preciso acelerar o
processo, pois o atraso resultará em danos maiores aos pacientes, com maior
custo e sobrecarga, a médio prazo, para o sistema de saúde.
Fonte: Brasil 61/ Foto de capa: Uol