Teste do Olhinho é primeiro passo para identificar doenças oculares
Alerta foi dado por entidades médicas em nota conjunta
O Teste do Olhinho, conhecido como teste do reflexo
vermelho, feito ainda na maternidade, até 72 horas de vida do bebê, é o
primeiro exame que ajuda na detecção precoce de doenças oculares que podem
afetar crianças. Entre essas doenças está o retinoblastoma, um tipo raro
de tumor intraocular maligno primário, ou câncer no olho, de origem genética,
mais comum entre as crianças de até 5 anos de idade. Ele tem origem em células
da retina e pode afetar um olho (unilateral) ou os dois. A estimativa é
que, por ano, cerca de 6 mil crianças no mundo sejam afetadas por essa
doença.
O alerta foi dado hoje (30), em nota
conjunta, assinada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e pela
Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP). Ontem (29), o
jornalista Tiago Leifert e sua mulher Daiana Garbin anunciaram que a filha
de 1 ano tem a doença e fizeram um alerta aos pais.
“Lamentamos o ocorrido e nos colocamos de forma
solidária ao lado desta família para ajudar no que for preciso. No entanto,
nossas entidades entendem que a discussão sobre o assunto, que cresceu nas
últimas horas, deve ser pautada por conhecimento fidedigno, com validade
científica e relevante. Em momentos assim, lacunas de informação podem abrir
espaço para distorções que impedem acesso à compreensão sobre como o
retinoblastoma se manifesta, pode ser diagnosticado e deve ser tratado”,
ressaltou o presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino.
Segundo ele, pais e responsáveis devem optar
pelos cuidados de médicos especializados, como oftalmologistas, uma vez que
tratamentos como 'self-healing' (auto cura) ou prática de exercícios oculares,
“não têm comprovação científica e, portanto, não servem para curar o
retinoblastoma ou qualquer outra doença que afeta o aparelho da visão”, como
glaucoma, catarata, doenças retinianas, entre outras. Na avaliação de Umbelino,
essas abordagens podem retardar o início de tratamentos corretos, com chance de
comprometerem parcial ou totalmente a visão e, inclusive, a vida do paciente,
em caso de tumores.
Exames completos
O CBO e a SBOP recomendaram que o Teste do Olhinho
deve ser repetido pelo pediatra pelo menos três vezes ao ano, nos três
primeiros anos de vida da criança. Bebês de seis a 12 meses devem passar por um
exame oftalmológico completo e, posteriormente, entre 3 e 5 anos de
idade, devem ser submetidos a uma segunda avaliação semelhante.
A presidente da SBOP, Luísa Hopker, afirmou que os
exames oftalmológicos completos são fundamentais para detecção de condições que
afetam a saúde ocular das crianças.
“Em caso de suspeita, no consultório, o paciente
passa por exame oftalmológico com a pupila dilatada. Se houver necessidade, é
realizado outro teste, sob sedação, em centro cirúrgico. A ultrassonografia
ocular deve ser realizada e pode mostrar pontos brilhantes intralesionais
consistentes com cálcio. A tomografia computadorizada também pode mostrar as
calcificações quando a ultrassonografia não está disponível. A ressonância de
crânio é necessária para realizar o estadiamento do tumor”, explicou.
O tratamento para a retinoblastoma depende de vários
fatores, entre os quais, a localização e o tamanho do tumor, disseminação além
do olho e possibilidade de preservação da visão. Diferentes procedimentos podem
ser adotados, incluindo quimioterapia (intravenosa, intra-arterial, periocular
e intraocular), terapia focal e métodos cirúrgicos. Luísa informou que nas
últimas décadas, as técnicas de tratamento do retinoblastoma têm apresentado
avanços consideráveis, com taxas de cura superiores a 95%, uma vez adotado o
tratamento adequado.
Diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce é muito importante, na
avaliação dos presidentes do CBO e da SBOP. A presidente da SBOP disse que o
tratamento terapêutico é individual, adaptado a cada caso e baseado em aspectos
como lateralidade, localização e tamanho do tumor primário, presença de
metásteses e prognóstico visual estimado.
Os pais e responsáveis devem estar atentos para
alguns sinais que podem indicar a presença do retinoblastoma, entre
elas, uma alteração do reflexo vermelho dos olhos, observada em
fotografias e caracterizada por um reflexo branco na pupila, chamado reflexo do
olho de gato. Essa mancha esbranquiçada é denominada leucocoria e pode impedir
a passagem de luz. Estrabismo também pode estar associado ao retinoblastoma.
De acordo com os especialistas, essa doença está
associada a uma anormalidade genética no cromossomo número 13. Apenas 10% dos
pacientes têm um membro da família com retinoblastoma e 40% manifestam uma
forma genética herdada do tumor, mesmo que ninguém mais na família tenha o
problema. Na maioria dos casos, em torno de 90%, o retinoblastoma aparece de
repente, sem nenhum evento associado e sem aviso prévio, não estando associado
a fatores externos dos pais, como fumar, beber etc.
Outras informações sobre o retinoblastoma podem ser
obtidas no site da
SBOP.
Foto de capa: Visão Center